17 de março de 2009

UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ....


Uma pena que as fotos não ficaram nítidas. O que demonstra minha total incapacidade como fotógrafa. Mas a foto acima é de um pedaço do meu telhado. Em cada buraquinho desses, mora uma andorinha. Como se fosse um grande condomínio! Elas costumam colocar as cabecinhas pra fora e ficam conversando com as vizinhas. Provavelmente fofocando e falando mal da vida alheia, lá delas, andorinhas. Pensei em cobrar uma taxa condominial, mas acho que não vamos chegar a um acordo. Domingo, passei intermináveis minutos à espreita, de câmara em riste, tentando fotografar as andorinhas conversando umas com as outras. Não consegui. Até que uma mais saidinha resolveu pousar no fio da TV e fazer pose para a máquina. Cliquei.



A sabedoria popular afirma que uma andorinha só não faz verão. Como uma coisa acaba levando à outra, lembrei da poesia do João Cabral de Melo Neto que reproduzo aqui:

Tecendo a Manhã

1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto