1 de abril de 2009

E COMO DÁ, MARIETA.... COMO DÁ.


Querida Marizinha Cremasco:

Fui lá xeretar o seu blog www.parlamarieta.blogspot.com, como sempre, e vi essa foto saudável, no post saudável: "Ser saudável dá muito trabalho". Pedi-a emprestado e, amiga prestativa e tão saudável quanto, me emprestou em minutos. A foto veio bem a calhar com o que tenho passado e pensado nesses dias na/da minha vida:

Estou com pressão alta, 10 quilos acima do meu peso, trabalhando que nem louca, mas sem disciplina, sem sentir que a coisa está caminhando... Sem receber o suficiente pra pagar as dívidas. Estresse, chateações por falta de reconhecimento das pessoas que a gente mais gosta e mais respeita... Procurando não reclamar da vida (já fiz muito isso e vi que não deu certo), e tentando ser alegre e sorridente como sempre.

Meu tio em Blumenau teve um AVC, Mariacotinha, e não está nada bem. Acredito que foi porque não te conheceu e nem lê (por razões óbvias e outras nem tão óbvias assim), os seus relatos sobre a busca difícil de uma vida saudável.

Minha mãe, você nem imagina, menina, está com depressão, porque não pode estar com ele, porque a família está esperando o pior e ela não pode ir pra lá, ajudar, palpitar. E também, insisto, porque não te conheceu e nem sabe a amiga alegre e querida que você é. Eu garanto, Litlle: duas doses de Marizinha de 4 em 4 horas e ela ficaria boa rapidinho da tristeza que assola o coração, lá dela.

Ontem fui a uma nutricionista. Simpática, mas com cara de durona.
Espero dela uns bons puxões de orelha.

Sai do consultório pensando em coisas novas e em algumas que já vinha matutando:

• beleza é uma coisa global (que novidade!);

• é se sentir bem com nossos corpos, nossas mentes, nossos amigos;

• é não ficar magoada quando o melhor amigo da gente fala alguma coisa que a gente não gosta porque todos bebemos um pouco mais naquela noite (já era dia na verdade);.

• é não sentir vergonha se, por acaso, a nossa outra melhor amiga, com o maior jeitinho do mundo, diz: “mas é que quando você bebe...você fica assim e assim...”

• E veja se você não concorda comigo: não adianta a gente dizer: vou parar de beber, vou começar a caminhar, vou fazer dieta... Se pensar que vai fazer, pode dar dá uma vontade... E uma preguiça também! E se parar de fazer... vai que a gente recomeça?

E qual a solução? A gente age da forma que tem ser feito e pronto! E para de pensar nisso, ora bolas!

Eu tenho muita coisa boa ainda para fazer na minha vida: coisas bacanas, criativas, mas tenho uma dificuldade imensa de listar minhas prioridades.

E quais seriam elas? Escrever, estudar, ensinar, trabalhar, fazer do bairro que escolhi pra morar um lugar agradável de se viver. As letras, as palavras, são as minhas únicas armas.

Agradeço muito ao Hugo Gruenwald, meu amigo querido, por me dar a oportunidade de coordenar junto com ele a Ciranda Cultural da Pedra de Guaratiba. Meu deu muito prazer fazer alguma coisa pelo nosso bairro em forma de poesia.

Mas, infelizmente eu não posso colocar tudo o que eu quero fazer como prioridade no. 1 O dia não tem 36 horas! Ele tem pra você? Me conta como conseguiu!

Estou em falta com a Oficina dos Escritores...

Em falta com os Anjos de Prata...

Outra coisa que descobri, super interessante: caminhar, escrever, emagrecer, meditar, rezar, agradecer, estudar aquilo que a gente gosta, procurar crescer na nossa profissão (sei que com a ajuda de muita gente), não se magoar à toa, perdoar... não tentar ferir ninguém (mas pra isso a gente tem que estar em pleno controle das nossas ações) produzem mais endorfina no nosso cérebro que 1 copo (e no meu caso, vários copos) de cerveja. Na verdade a bebida, assim como outras drogas, inibe a endorfina. Por isso precisamos de mais.

Estou me expondo, sim.
E isso tem uma razão de ser:

Ser saudável, Mariazinha, dá um trabalho danado, e eu vou precisar da ajuda de todos os meus amigos queridos e você, encabeça a lista.

Conto com você.

Mil beijos e saudades.

Daisy Melo

17 de março de 2009

UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ....


Uma pena que as fotos não ficaram nítidas. O que demonstra minha total incapacidade como fotógrafa. Mas a foto acima é de um pedaço do meu telhado. Em cada buraquinho desses, mora uma andorinha. Como se fosse um grande condomínio! Elas costumam colocar as cabecinhas pra fora e ficam conversando com as vizinhas. Provavelmente fofocando e falando mal da vida alheia, lá delas, andorinhas. Pensei em cobrar uma taxa condominial, mas acho que não vamos chegar a um acordo. Domingo, passei intermináveis minutos à espreita, de câmara em riste, tentando fotografar as andorinhas conversando umas com as outras. Não consegui. Até que uma mais saidinha resolveu pousar no fio da TV e fazer pose para a máquina. Cliquei.



A sabedoria popular afirma que uma andorinha só não faz verão. Como uma coisa acaba levando à outra, lembrei da poesia do João Cabral de Melo Neto que reproduzo aqui:

Tecendo a Manhã

1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

10 de março de 2009




Adriatic Neighbors
by Henrietta Milan







NO TEMPO DAS CARAMBOLAS



As árvores eram altas e as pernas do meu pai tão longas que chegavam em Dublin.
Um quintal e umas ameixinhas amargas. Mas eu principiava a achar tudo bom.
Casa branca, varandinha minúscula, um mistério: para que porta que nunca se abre?
A tartaruga atacava o dedão caso ele estivesse com unhas pintadas de vermelho-cor-de-tomate.
Era doidinha por tomate.
Bomba-Relógio, o galo, lavava os pés-de-galinha caso quisesse entrar, pois a casa tinha cheiro de mofo e limpeza. Um frio de séculos e lápis de colorir.
Eu principiava um sorriso meio fosco, meio tosco, um meio sorriso que nunca desabrocha do tempo que nunca era e nunca chegou.

Por que cisma em ficar na minha lembrança se nunca existiu?

Daisy Melo

5 de março de 2009

FRIO



Foto tirada da internet


Certas lembranças surgem e são sensações muito presentes. Chegam a doer. Lembro da minha operação nas amígdalas. De dançar e ir feliz da vida para o hospital. Corria e pulava como se estivesse numa festa com palhaços, bolas e bandinha, só porque haviam prometido todos os sorvetes que eu conseguisse tomar. E cumpriram a promessa. Mas a dor era tanta ao engolir, que não consegui comer nenhum. A massa cor-de-rosa com pedacinhos de morango arranhava minha garganta e ia rasgando faringe, laringe, traquéia e formando um bolo disforme no estômago. Naquele dia chovia fininho e frio.
Desde então as chuvas não se afastaram mais. Penso nos disquinhos de vinil de todas as cores que contavam histórias infantis. Lá fora chovia insistente. Eu me aquecia ouvindo musiquinhas e fantasiava um colorido solitário. Mas o frio...
Depois, cresci. As chuvas eram, então mais intensas e as gotas batiam geladas na minha alma de inverno carioca. Inverno pouco, dirão alguns veementemente. Tá, concordarei a contragosto. Mas não explico que a alma é imensa. Nem mostro onde ficam todos os frios do mundo. Todas as neves e granizos. Nem conto que na minha alma adolescente cabia todo o frio da Sibéria.
Ainda chove e o vento bate no toldo da varanda com brutalidade de namorado bêbado. As venezianas mexem-se descontroladas e meus gatos ressonam nas almofadas. Afago um por um com melancolia e eles reclamam miando entediados e fogem da minha súbita demonstração de afeto.
Abro o portão e olho a cachoeira de chuva e barro que despenca ladeira abaixo. O vento é tanto que faz voar o guarda-chuva. Olho surpresa e ele sobe como um balão, revolve-se numa terçã louca, contorcendo-se até não sobrar mais nada.
Rodopio junto e caio no jardim, tonta e enjoada. Meu corpo afunda inerte na grama molhada. As gotas escorrem do meu rosto e o frio se descola do meu coração. Deve ser bom morrer assim. Morrer deve ser bom assim. E reconheço um misto de dor e fuga ao sentir a chuva gelada penetrando nos ossos e enrugando a pele.
Volto para dentro molhada como um pinto. Expressão engraçada como se pinto fosse peixe. Não é pato que nada? Pinto. Pinto. Pinto! Tiro a roupa deixando-a amontoada no meio do caminho e, com olhar vitorioso, gozo a minha rebeldia. Meu desfazer de regras. Meu não listar obrigações. Não. Hoje só tricoto os fios do meu cobertor de lembranças.
No espelho olho meu corpo - já não tão bonito - e o reflexo mostra todos os amores que recusei, toda a satisfação que senti ao fazer um homem sofrer do meu Não. Um sim encolhido no meio do peito e jogado na cara mesmo, com som de Não!. Um Não arrancado da alma grande e fria. Para quê? Para olhar meu corpo agora flácido no espelho lascado? Meu corpo seco de Não?
No criado-mudo, o copo com o líquido espesso, cor de rosa. Bebo rápido e nem penso. O gosto adocicado e a forma como ele invade sôfrego a minha garganta, me lembra o sorvete de morango.
Deito na cama. Os lençóis cheiram gostoso. Um cheiro de alecrim. Apalpo todo o meu corpo com a satisfação do reconhecimento e já com saudade. E enquanto aguardo, sinto um rodamoinho de sentidos antigos e cada vez que afundo, mais sinto frio. A chuva lá fora parece diminuir. O toldo não bate tão forte e tudo fica mais longe, as cores mais desbotadas... ou sou eu que me afasto?
É a ultima vez que sinto o frio intenso. O cheiro de alecrim some pouco a pouco... as gotas da chuva batem no corpo que não é mais meu... ou bateram... não me lembro mais. Foi há tanto tempo...

4 de março de 2009

EM ALGUM LUGAR ANOITECE


Angel on a Red Horse
by Sharon McCullough


Durante uma época há muito ida, participei da "Confraria dos Escritores" (ou "Confraria dos poetas" nao lembro bem - me ajude, Mhel!!) Um dos exercícios era escrever um poema a partir do título de um poema de um outro participante. Este título é de um poema da Maria Helena Bandeira. Estou convindando-a, agora, a postar o poema cujo título gerou esta poesia (da mesma forma que gerou outros poemas meus que acho lindos (que a modéstia não me falte hohoh).


Mas é quando anoitece em mim
que eu liberto meus mistérios,
engulo os sapos, as lagartixas
regurgito as luas e os sagitários
salpico de estrelas meu corpo gélido.

Quando anoitece em mim
Meu coração pula como um louco
Tropeça, engasga
Desdiz e se desmancha
Quase sempre por tão pouco.

É quando mais me avisto
Minha máscara se desgasta
Mais em nuvem me desfaço
Mais da sua pele me deslumbro
Mais corro para o seu laço.

Em algum lugar anoitece,
Anoitece no Japão
Na Tunísia e no Paquistão.
E quando anoitece em mim,
essa noite me arrebata

Eu minto, me despeço, fujo, finjo, me cubro
e me abro...
quanto mais você me nega.

Daisy Melo

17 de fevereiro de 2009

Que venha o amor...de novo



O amor aparece enquanto a gente não o espreita. Frase feita, mas é verdade.
Um dia, a gente não sabe porquê, um olhar enviesado nos atravessa o peito e nos tira o prumo e o fôlego.
E a gente, tão fria e racional, se vê desnuda, o coração na boca, aparente, esgarçado.
Procura-se e desculpa-se a falha. E busca-se no escondido das nossas vidas mornas – “onde errei?”
Porque, afinal, se apaixonar não estava no contrato.
E a gente luta e se esconde, bate a porta na cara do amor enquanto a paixão ri, tirana, já dentro, já dona.
Dona do pedaço, do espaço, da batucada em que se transforma o peito, que ribomba num barulho tão alto que se imagina que a cidade toda vai escutar. E dançar com a gente.
Na tentativa inerte de ainda racionalizar alguma coisa, pede-se para que o amor venha nos convencer. Não é bem assim. Ele tá pensando o quê? Entra como se tivesse sido convidado? Na maior cara de pau?
Mas aquele sorriso... Já nos mostra que estamos vencidos. Que jogamos a toalha.
Por mais que se corra, o amor nos pega um dia.
Aproveita-se do cansaço, da inércia, do medo, da insipidez, e nos toma – refém dos seus caprichos.E a gente nem liga.
E quer mais. Esquece-se que pode não ser o ultimo amor, mas ora!, que venham todos os amores, com todos os toques e gostos. Com suas reviravoltas de estômagos e frios na barriga.
Que se esgueire pelas frestas das portas e janelas, se acumule nas rendas e lençóis, e que nos deixe assim com essa cara de bobo que só os que amam têm.
Que venha o amor, apesar do frio lá fora. Da chuva que faz barulho na argila do telhado, do vento balançando o toldo com estrondo.
Ao longe tudo está descolorido, pardo. E nem se consegue ver a linha que separa o céu do mar, pois o inverno caiu pesado, no bairro, na cidade, na praia com seus barquinhos tiritando emparelhados. Mas não caiu em mim.

16 de fevereiro de 2009

Tenho escrito pouco... infelizmente...
Preciso, urgentemente, corrigir isso!
Mas escrevi este textinho.
É uma "rapidinha"
Na OE-Oficina de Escritores (www.oficinadeescritores-oe.blogspot.com) temos um exercício muito interessante: alguém dá um tema e a gente tem até 16 horas pra escrever um texto de até 120 palavras. Como eu só vejo o tema em cima da hora, tive alguns minutos pra escrever este texto.

claro que depois de enviar o texto pra OE dei uma melhorada (estripada como diz a minha amiga Mhel)





Morte

Ele disse:
- FOI!
Ela disse:
- NÃO FOI!
O ódio enregelando as artérias; e aí, o pensamento nem vai pro cérebro!
- Eu estou certo (e ela também estava, ora...).
A conversa se esvaiu no ínfimo espaço de um tempo que podia ter sido, ai, meu deus! Poderia ser...
Mas o orgulho... ah, o orgulho, preto no branco... mata os matizes, mata as cores, se embola com a razão.
E a razão, voz primeira deste orgulho morre também...
Que razão, cacete! E nós...?
Que faremos nós, já mortos há tanto tempo de ruínas?